domingo, 22 de fevereiro de 2015

Pressuposto básico teológico: Deus na história e o divino no humano


Continuação da reflexão do tema da Campanha da Fraternidade 2015
Frei Gilvander Moreira

O Deus do cristianismo é um Deus da história, quer dizer, age nas entranhas dos fatos e dos acontecimentos. O Deus da vida, mistério de infinito amor, não faz mágica. Desde que Deus, por infinito amor à humanidade, se encarnou-se, o divino está no humano.
O Concílio de Calcedônia, no ano de 451, reconheceu Jesus Cristo com “natureza” divina e humana. O apóstolo Paulo reconhece que Jesus é o Cristo, filho de Deus, mas “nascido de mulher” (Gal 4,4), ou seja, humano como nós desenvolveu seu infinito potencial de humanidade. “Jesus, de tão humano, se tornou divino,” dizia o papa João XXIII.
“Não é ele o filho de Maria e Jose?”. Progressivamente, na Galileia, Samaria e Judéia, Jesus se revela, à primeira vista, em aparentes contradições, mas, no fundo, com tal equilíbrio que chama a atenção de todos. Assim, ele testemunha que Deus é mais interior a nós do que imaginamos. A mística “encarnatória” revela a pessoa humanamente divina e divinamente humana. “Quem me vê, vê o Pai”.
Jesus, antes de se tornar mestre, foi discípulo. Antes de ensinar, aprendeu muito com muitos: com Maria e José, com o povo da sinagoga, com os vizinhos, amigos, com os acontecimentos históricos, com a natureza etc.
Somos discípulos/as de Jesus Cristo, um jovem camponês, da periferia, que foi condenado à pena de morte pelos podres poderes da política, da economia e da religião. Somos discípulos/as de um mártir. Feliz quem não esquece a vida, o testemunho e o ensinamento dos mártires.
Destemido, o Galileu de Nazaré vai enfrentando todas as perseguições, convicto de que é profundamente amado pelo Pai – Deus, mistério de infinito amor que nos envolve – e que é amado e reconhecido pelos oprimidos e injustiçados.
Jesus não está mais na fase da priorização das ações de solidariedade. Ele, na convivência com os empobrecidos e lendo os sinais dos tempos e dos lugares, adquire a clareza de que o sofrimento que se abate sobre o povo é causado principalmente pelo imperialismo romano, pelos saduceus (grandes latifundiários da época que praticavam uma religião da Teologia da Prosperidade), pelos que comandavam o poder religioso, tipo padroado, que fazia sacerdotes privatizarem na prática o sistema de saúde ao cobrarem para atestar curas e, assim, excluíam os pobres, os doentes, as mulheres e os estrangeiros com a famigerada lei da pureza e da impureza, que dizia: Quem é rico e sadio é abençoado por Deus. Quem é pobre e doente é porque é pecador e Deus está castigando. Assim, privatizando Deus, faziam terrorismo religioso. Jesus, pelo seu ensinamento e práxis, vai questionando tudo isso e, consequentemente, atraindo sobre si a ira de todos os que se beneficiavam com o sistema opressor muito bem entrosado nos poderes político, econômico e religioso.

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